A Música em Roma
Por Luiz Lobo
A Etrúria era uma região do que depois veio a ser a Itália. E os etruscos conheciam a música Lídia, Frigia e da Grécia. Os etruscos eram considerados um povo muito musical.
Roma foi fundada em 753 a.C. e os romanos da Idade Antiga admiravam a música: do Egito importaram as canções e os instrumentos musicais; da Síria, as flautas, e incorporaram ainda as danças árabes, as gatidanas que mais tarde levaram para a Espanha.
Os romanos só conseguiram conquistar a Grécia, totalmente, no século II a.C. A chamada Magna Grécia, as colônias gregas na Itália Meridional e na Sicília, acabaram sendo a grande influência sobre tudo o que foi conquistado e sobre os próprios conquistadores, dando origem ao período neogrego.
Dedicados à política e às guerras, os romanos não tinham tempo para a música, da qual gostavam muito mas era ofício de escravos gregos. Na verdade, Roma custou muito a ter uma arte que pudesse ser chamada romano, porque todos os seus artistas eram estrangeiros.
Mas Roma ia buscar o que queria onde quisesse. Todos os instrumentos musicais da Antiguidade foram usados pelos romanos. Ou por seus escravos.
O instrumento mais popular da Roma Antiga foi a flauta de dois tubos, chamada fístula. A corporação de flautistas de fístula ficou famosa: o Colegium Tibicinum Romanorum era chamado para espantar os maus espíritos e atrair os deuses durante os sacrifícios litúrgicos. O som triste da fístula era também muito apropriado para acompanhar funerais e não só os músicos abusaram no preço como tornou-se moda afrontar, nos sepultamentos, com um número cada vez maior de músicos tocando seus lamentos. Foi preciso uma lei que limitasase o número de fístulas em 10, por funeral. A não ser no enterro de senadores e generais.
Os órgãos, tanto o hidráulico quando o pneumático, foram muito usados em Roma e nos seus domínios.
As várias cítaras também eram populares e os citaristas tinham até um traje típico:um túnica bordada a ouro com um manto púrpura com a frente incrustada de pedras preciosas. A palavra Cithara, em latim designava o gênio da música e da poesia.
A lira era chamada testudo, porque era feita do casco desse animal, a tartaruga. O instrumento de sopro sírio com duas palhetas, o oboé, era chamado tíbia. Um instrumento difícil de tocar e, principalmente, de tocar bem, os grandes instrumentistas tinham foro de nobre e eram pessoas ilustres.
As trombetas eram consideradas sagradas e só podiam ser usadas nas cerimônias dos templos ou nas guerras. Eram chamadas tibulustrium e deviam, ser purificadas duas vezes ao ano. Eram de vários tamanhos, retas ou curvas. A mais comprida, reta, era a lituus. E quem a tocava pertencia à corporação dos liticinos. A curva era a cornu, atual trompa (ou corno inglês). A trombeta com o som mais grave era a tuba.
Em 336 a.C. surgiu em Roma a pantomima etyrusca: era a sucessora do teatro grego e tinha música. O primeiro teatro romano era satírico, muito popular e os versos eram cantados. Em 200 a.C. o letrista e o compositor já eram pessoas diferentes.
Na Tragédia eliminou-se o coro grego, que apenas canrtava e dançava nos entreatos, com acompanhamento de fístula.
Cipião, o Africano (cerca de 184 a.C.) achava intolerável que os jovens romanos perdessem tempo freqüentando eventos "com dançarinas, sambucas a saltérios".
Catão, por volta de 150 a.C firmava que todo homem sério devia abster-se de cantar. Em 140 a.C. Marco Terencio começou a divulgar as teorias musicais gregas em Roma e fez com que os romanos estudassem música. Foi uma febre, uma moda que pegou, e logo era formadas companhias com músicos e atores que viajavam e provocaram a construção de teatros em Mérida, Sagunto, Nimes, Arles, Magúncia, Colônia e Cartago.
Nero, por exemplo, favorecia as artes da música, canto e dança e dava festas excepcionais. Segundo Luciano, ao receber um príncipe bárbaro do Norte, e ao afirmar que daria a ele o que fosse pedido, o Príncipe pediu o bailarino que se exibira.
Até as aulas e os discursos no Senado tinham acompanhamento musical e geralmente um flautista indicava, com as notas musicais, o tom de determinadas partes da oratória.
Primeiro teatro de pedra com regras de acústica foi construído em Pompéia,M 55 a.C.. Cabiam 40 mil pessoas. Scauro construiu um com três andares, ornado com 3 mil estátuas de bronze, para 80 mil espectadores. Não era incomum que os autores cantassem seus versos, acompanhados por flautistas mas, na verdade, quase sempre eles estavam apenas fazendo a mímica e um escravo é que cantava.
A figura mais importante do teatro era o phonascus, o professor de canto, uma figura de destaque na sociedade romana e que exigia exercícios físicos severos e dietas rigorosas dos cantores.
Cícero, em 43 a.C. falava constantemente contra a música, tanto vocal quanto instrumental e afirmava que a doçura da música havia feito dos gregos homens fracos e depravados.
O filósofo Epicuro afirmava que a música "atende ao vinho, incita à perenidade e excita a libertinagem".
Em 22 a.C. Pílades levou a Pantomima coreografada e cantada para Roma, com acompanhamento de flauta, cítara, lira, tíbia e percussão. E os dançarinos usavam pequenas placas de metal (scabillum) nos pés, para marcar o compasso.
Por volta do ano 100 os romanos eram definitivamente, um povo musical e surgiram as atellanes, cantigas populares, debochadas e de mal dizer, quase sempre improvisadas e falando mal dos poderosos.
Tigellio, o flautista, e Demetrius, o cantor, ficaram íntimos de César e foram nomeados professores de música das damas romanas. Mas havia um certo preconceito, com se percebe na frase "Sempronia cantava muito bem para ser uma mulher decente..."
Caius Cilnius Maecenas, conselheiro de Otávio, conquistador do Egito e somou Augusto (sagrado) ao seu nome, aproximava os músicos e cantores do poder e conseguia financiamento para eles. Passou a ter o título de Protetor das Artes, dos Artistas e dos Sábios e seu nome (Mecenas) passou a ter esse significado.
Nero estudou música com Terpo, o melhor músico da época. Anônimo (ou se imaginando anônimo) ganhou concursos competindo com os melhores músicos em Nápoles, Atenas, Lacedemônia, Corinto. Ficou verdadeiramente famoso como cantor de músicas gregas e tocador de lira, cítara e harpa. No Teatro de Pompéia competiu com o rei armênio Tirídates que, vencido, depositou cetro e coroa aos pés de Nero. Dizem que o Imperador foi o inventor da claque.
A partir dele todos os reis e imperadores foram músicos, cantores, e alguns até dançarinos.
O único instrumento inventado na Roma antiga foi a cornamusa, uma gaita rústica que veio a ser o hornpipe na Escócia e a musette na França.