terça-feira, 28 de abril de 2009

Gregorio Allegri - Compositor Romano do Sec. XVI

Gregorio Allegri nasceu em 1582. Era cantor, maestro, compositor, e conseguiu trabalhar no coro da Capela Sistina, onde pôde estudar com os melhores mestres de música da época. Em 1638 compôs uma peça para a semana santa, uma música sobre o salmo 51, Miserere mei, Deus, para 9 vozes a capela, música que, de tão sublime, ganhou fama internacional nas décadas seguintes. Para manter a aura misteriosa e preservar a beleza dessa peça, os papas proibiram que fosse feita qualquer cópia da partitura, sob pena de excomunhão para aquele que o fizesse sem o seu consentimento. Todos os anos, duas vezes, durante cerimônias na Semana Santa, o Miserere era cantado na presença do papa, na Capela Sistina. Mesmo com essa proibição, sabe-se de 3 cópias legais do Miserere fora do Vaticano: uma com o rei de Portugal; outra com o respeitado professor e padre Giovanni Martini, de Bolonha; a outra com o imperador Leopoldo I, em Viena. Leopoldo, que solicitara uma cópia ao papa para executar a peça na sua capela real, conseguiu a partitura, mas da primeira vez que foi cantada em Viena se revelou um grande fiasco. O imperador reclamou ao papa, e o mestre da Capela Sistina explicou que a beleza da obra se devia ao estilo usado pelos cantores romanos, e por técnicas e ornamentos impossíveis de se colocar no papel. O mestre de capela, então, foi a Viena e conseguiu executar o Miserere de forma aceitável, salvando assim sua pele com o papa. O mistério seguia, até que em 1770 o jovem Mozart, de 14 anos, em viagem com seu pai Leopold, chegou a Roma na época da Páscoa. Estando na Capela Sistina na Quarta-Feira santa, os Mozarts puderam ouvir pela primeira vez a célebre composição, e ficaram extasiados. Wolfgang, entretanto, ao final da apresentação, anotou a música (as 9 vozes, incluindo os ornamentos próprios da escola romana), e corrigiu alguns detalhes na Sexta-Feira Santa, quando retornaram para a segunda apresentação anual do Miserere. Pronto. Leopold enviou uma carta à esposa noticiando a façanha, de que agora eles possuiam uma partitura do Miserere de Allegri, sem necessitar de cópia. Na passagem por Bolonha, os Mozarts encontraram-se com o padre Martini, que possuía uma das cópias anteriores do Miserere, e lá receberam a visita do estudioso escritor Charles Burney. Burney estava viajando pela França e Itália recolhendo material sobre a música desses países, e quando voltou à Inglaterra publicou o livro com texto e várias partituras, inclúindo, pela primeira vez, o Miserere de Allegri! Como ele teria conseguido? Uma hipótese diz que ele teria copiado a partitura do padre Martini. Outra hipótese é que o mestre de Capela do Vaticano tivesse dado uma cópia a ele. Mas essas hipóteses poderiam ter trazido severas conseqüencias aos dois fornecedores, que incorreriam em excomunhão por desobedecer ao papa e permitir cópias do material. Por isso, a teoria mais difundida, e talvez mais romântica, definitivamente a preferida, é a de que Burney teria copiado a partitura anotada por Mozart, comparado com a cópia do padre Martini, retirado os ornamentos característicos da capela Sistina, e publicado essa versão simplificada. O resultado é que ninguém foi excomungado, e ainda assim o Miserere passou a ser domínio público. Três meses depois, ainda em Bolonha, Mozart compunha o seu próprio Miserere. E até hoje, desde 1638, duas vezes durante cada Semana Santa, o Miserere de Allegri é cantado na presença do papa, na Capela Sistina. Por isso temos como brinde musical o Miserere Mei, Deus de Mozart, numa versão que ressalta o contraste entre as diferentes partes da música; e o Miserere Mei, Deus de Allegri, na sua versão atual - sem as ornamentações da escola romana, as quais só há tentativas de reconstituição - a obra musical mais misteriosa da história da Igreja.